MULHERES
NA TRAVESSA - TRAVESSIA
QUANDO /
24 de abril, 2021 - 30 de abril, 2021
ONDE /
canal do mulheres na travessa no youtube, instagram e zoom
SOBRE O EVENTO /
arte: @carolinaitza
O Mulheres na Travessa nasceu como um lugar de potência. Em uma travessa na Vila Anglo, corpos territorializaram histórias, lutas e projetos de vida. Por esses corpos transitórios e plurais, dores foram compartilhadas, afetos foram cultivados e memórias e experiências viraram voz e concretude. É desse desejo do encontro e da potência, da multiplicidade de existências no mundo, de olhar pela resistência e pelos trânsitos no território de nossos corpos, rua e deslocamento, que o Mulheres na Travessa cresceu e se tornou Festival.
No desejo de expandir laços queríamos nos mover, procurar outros cantos, outras encruzilhadas. Como Festival, então, o Mulheres se deslocou dos territórios de concreto para as conexões das redes. Nesse processo migratório de deslocamento e descobertas outras, o Mulheres procurou transformar a Travessa Roque Adóglio em avenidas de asfalto, em estradas de barro, em ruas de rios e vielas de mares. O Festival Mulheres na Travessa encontra-se nessa grande travessia.
Como Travessia, o IV MULHERES NA TRAVESSA - TRAVESSIA deseja celebrar a vida, a produção e resistência das mulheres diante de um cenário tão desolador que nos acompanha há mais de um ano. Queremos celebrar a vida de quem habita esse mundo, de quem veio antes de nós e também de quem partiu pelos desmandos do descaso. Em 12 de março de 2020, morria no Brasil a primeira vítima da Covid-19. Não por acaso, Rosana Aparecida Urbano, diarista, moradora da Cidade Tiradentes, extremo leste de São Paulo, que sonhava com o fim das parcelas de seu apartamento e tinha como horizonte poder se aposentar. Hoje, diante desse (des)Governo e desse sistema em que o lucro se sobrepõe e impera sobre as existências, nossas vidas se transformam em mercadorias. Para alguns, “é só uma gripezinha” e “é preciso salvar a economia” (sic). Assim seguimos atualizando os números de morte, cotidianamente. Esses números nos mostram que a desigualdade social e racial são determinantes para dizer quem vive e quem morre.
Por tudo isso, ARTE, VIDA E TERRITÓRIO EM TEMPOS DE PANDEMIA é o que orienta nosso festival e é também nosso manifesto. Espaço em que queremos disputar sentidos e produzir questionamentos sobre a artificialidade de muitas fronteiras. Aqui, nesse encontro, é lugar de demarcação de terra indígena e quilombola, lugar de luta contra a destruição ambiental, lugar de corpas dissidentes, lugar de denunciar os silenciamentos e ausências do feminismo hegemônico que inclui na exclusão. Queremos ter a diferença como parte constitutiva deste espaço, denunciando o modelo universal que nos é imposto sobre quem nós somos e quais são as nossas lutas. Agir na e com as diferenças é desafiante, nos exige escuta e olhar de profundidade. Essa é nossa travessia desejada, horizonte de existências plurais.
Contamos com o múltiplo. Começamos com a seleção de 9 curadoras, que convidaram cerca de 70 mulheres cis e trans, pessoas não binárias e homens trans para participar da mostra de artes-visuais, ciclo de performance, banca de publicações, mostra de curta-metragem, mostra de videoarte, shows, festa, sarau e roda de conversa. Corpos transitórios que, entre migrações e deslocamentos, estão espalhados em 15 estados, nas periferias das grandes capitais, das cidades dos interiores aos litorais do Brasil. Movimentamo-nos através das diversas expressões da arte e do compartilhamento de saberes, aguçando nosso olhar e confiando em nossos sentidos. Nosso deslocamento é por meio de uma arte que não está cerrada nas paredes brancas do museu ou nos manuais da historiografia oficial e elitista.
Construímos na rua o fazer da composição proposto por Marcela Bonfim, uma alternância de linguagens que nos convida a uma narrativa coletiva e provoca rupturas nas nomenclaturas e fazeres de uma curadoria. Navegamos pelos caminhos das águas, força de vida, os rios-estradas de Keila Serruya Sankofa, que evidencia quem está à margem na impossibilidade de embarcações. Pimentel, em sua perspectiva, sertransneja provoca o encontro de corpos desejantes, que migram e transicionam na busca da liberdade. Luiza Romão arranca a palavra escrita das superfícies, brinca com o gênero e nos convida a conhecer os caminhos da publicação. Anna Andrade mira outros enquadramentos possíveis do fazer cinematográfico e, com isso, escancara as disputas que nunca cessaram. Com Maria Giulia Pinheiro falamos sobre nosso lugar no mundo, sobre lutas e as possibilidades de se construir um outro futuro. Aqui as perguntas nos movem e nos conectam com nossas utopias. Somos convidadas a celebrar a vida com Jhenny Santine que, cheia de swing, busca fortalecer a articulação e autonomia entre as mulheres para que se torne possível encontrar coletivamente motivos para dançar mesmo em tempos sombrios. Ana Musidora trata do conflito estético racial partindo da pele, lugar de violências sistemáticas e de resistências. Busca nos afetos possibilidades outras do habitar dos corpos e de se fazer presente. Jô Freitas encara a arte como re-existência, constrói contrassensos, espaços que podem ser ao mesmo tempo de enfrentamento e de troca aberta com muito aconchego.
As curadoras e os trabalhos selecionados apresentam aqui uma leitura sensível, cada uma à sua maneira, sobre rupturas e resistências, sobre ciclos e afetos. Somos levadas a refletir sobre a morte e o papel desta diante da vida. E falar das mortes é também resgatar a história de um povo, suas heranças e seus antepassados. É lembrar que nossas travessias vêm de longe e que muitas ficaram no mar. O território aqui se faz corpo e memória. Afinal, para as mulheres esse sempre foi um lugar de disputa através das tentativas de domesticar e disciplinar, seja por parte do Estado ou da Igreja. Corpos estes que foram extensão do território colonizado, mas também sujeitos na ação política. Um corpo-território que nos permite conectar as resistências individuais às nossas lutas coletivas.
Nos deslocamos, enfrentamos e fugimos à norma, criamos outros vínculos. Esse festival quer se expandir e se conectar em rede. Lançar-se no rio, moldar o barro, ser a força das águas que arrebentam barragens. Queremos a força dos nossos pulmões para gritar, resgatar as vozes que nos foram silenciadas. Queremos o movimento e os gestos de um corpo potência. E é por tantos quereres que ‘nos queremos vivas’ e juntes!
CRISTINA FERNANDES, curadora geral
CRONOGRAMA /
PERFORMANCES
Ciclo de Performances
rede de CONVERSA
Roda (rede) de Conversa
CURTAS
Mostra de Curtas e Roda de Conversa
Nos Queremos VIVAS
Sarau LITERO-Musical
ARTES VISUAIS
Mostra de Artes Visuais e Roda de Conversa
VIDEOARTE
Mostra de Videoarte
PUBLICAÇÕES
Banca de Publicações e Roda de Conversa
MÚSICA
Shows
FESTA
Festa Online